Francisco é o último papa? Conheça a previsão de um santo irlandês
Primeiro santo irlandês reconhecido pela Igreja, São Malaquias profetizou sobre 112 ocupantes do trono de Pedro, lista que termina com o papa Francisco.
São Malaquias O’Morgair foi um místico irlandês que viveu no século XII, conhecido por uma rica tradição de legendas, visões, milagres e profecias. Foi companheiro e amigo do célebre São Bernardo de Claraval, doutor da Igreja e inspirador da confraria esotérica da «Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo no Templo de Salomão», popularmente conhecidos como Templários. São Bernardo escreveu a sua biografia, «A vida de São Malaquias», na qual informa que ele tinha o dom da profecia e que previu o local, o dia e a hora exacta da própria morte. Malaquias morreu em 1148, na abadia de Claraval, em França, e foi canonizado pelo papa Clemente III no final do século XII, tornando-se o primeiro santo irlandês oficialmente reconhecido pela Igreja Católica.
São Malaquias costumava passar temporadas em Claraval. Uma delas ocorreu em 1139, quando o religioso, em peregrinação a Roma, passou pela Escócia, Inglaterra e França. Foi nesse ano que teve a visão dos pontífices que ocupariam a Sé de Pedro, da sua época até ao «fim dos tempos». Ele visitou São Bernardo outras vezes e com ele manteve uma intensa correspondência, que culminou, em 1142, com a fundação da grande abadia de Mellifont, primeiro mosteiro cisterciense da Irlanda.
A sua profecia dos papas apresenta 112 brevíssimas divisas, muitas em linguagem cifrada, contadas a partir de Celestino II, papa entre 1143 e 1144. Apesar de terem sido escritas no século XII, foram oficialmente publicadas somente quatro séculos após a morte de Malaquias. Em 1595, o monge belga Arnold de Wyon, espécie de historiador da Ordem de São Bento, publicou «A árvore da vida», colectânea de biografias de figuras de destaque entre os beneditinos de toda a Europa. No capítulo dedicado ao santo irlandês, a profecia dos papas foi incluída.
A árvore da vida contém notas biográficas sobre São Malaquias e diz que o santo irlandês «escreveu vários opúsculos, os quais não tive até aqui a oportunidade de estudar em profundidade, com excepção da profecia sobre os Soberanos Pontífices.
O livro tornou-se um grande sucesso em toda a Europa, então cristã. Provocou muita curiosidade e polémica, sobretudo quanto à sua autenticidade, pois alguns duvidaram que a profecia tivesse mesmo sido composta por São Malaquias. A sanção definitiva de validade, contudo, só poderia vir do futuro, pois do total de 112 divisas ou lemas mencionados no livro de Wien, 76 já pertenciam ao passado em 1595. O mesmo não se poderia dizer dos nomes dos 36 papas restantes, começando com Clemente VIII, que governou a Igreja até 1605.
Entre as profecias, algumas se destacam pelas surpreendentes correspondências – ou seriam coincidências? Por exemplo, as divisas «Lumen in caeli» (Luz no céu), para o papa Leão XIII (1878-1903), ou «Religio depopulata» (Religião despovoada), para Bento XV (1914-1922). Quanto a este último, o seu papado incluiu tragédias, como a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa, que não apenas resultou no «despovoamento» de milhões por causa da guerra civil que a ela se seguiu, como promoveu activamente o ateísmo e a perseguição religiosa. No caso de Leão XIII, o brasão da sua família, Pecci, exibe um vistoso cometa, a «luz no céu», sobre um fundo azul-celeste – sejam quais forem os sentidos mais profundos da profecia.
«Pastor et Nauta» (Pastor e marinheiro), foi o vaticínio que coube a João XXIII (1958-63). Este de facto foi pastor de ovelhas na juventude. Além disso, foi patriarca de Veneza, cidade famosa pelo seu meio de transporte típico, a gôndola, de maneira que todos os venezianos podem ser chamados de «nautas».
Durante o conclave de 1958, a edição então disponível das profecias de São Malaquias esgotou, tamanho o interesse e a curiosidade sobre as previsões. A enigmática «Pastor et nauta» estava na cabeça de todos. Em Roma, correram rumores de que o cardeal Spellman, de Nova Iorque, conhecido pelo grande interesse nas predições, teria alugado um barco e com ele cruzara o Tibre. Mais ainda, comprou algumas ovelhas e colocou-as no barco.
A divisa «Flos fórum» (Flor das flores), isto é, o lírio, coube ao sucessor de João XXIII, Paulo VI (1963-1978). Aqui, a explicação está na heráldica, posto que o lírio é um elemento proeminente no brasão da família Montini (de Paulo VI). A divisa que a profecia de São Malaquias reservou para o papa Pio VII (1800–1823) foi «Aquila rapax» (Águia rapace), ou voraz, de rapina. Apesar de a águia não figurar no brasão do papa, há uma explicação para o enigma, segundo o autor inglês Martin Lings, na revista Studies in Comparative Religion: «Não havia como fazer tal divisa ajustar-se ao papa então eleito, mas, depois de nove anos da sua assunção, subitamente tornou-se claro que a «Aquila» era ninguém menos que Napoleão Bonaparte, frequentemente descrito como tendo a aparência de uma águia e que se mostrou «rapace» ao arrebatar o papa de Roma e mantê-lo cativo em Savona a partir de 1809 e, depois, em Fointainebleau, a partir de 1812, até que a sua própria sorte começou a declinar e Pio VII pôde regressar a Roma».
«Peregrinus apostolicum» (Peregrino apostólico), é o lema dedicado ao antecessor deste papa, Pio VI (1775–1799). Aqui também a explicação dada por Martin Lings parece convincente, pois muitas vezes a profecia refere-se a coisas imprevisíveis sobre as quais nem o papa, nem os cardeais poderiam ter controlo. O papado de Pio VI foi um desses casos, pois a palavra peregrinus mostrar-se-ia aplicável acima de tudo ao trágico fim da sua vida. Em 1798, ele foi feito prisioneiro pelo exército republicano francês e forçado a viajar de Roma para Siena, daí para Florença, Turim, e depois, atravessando os Alpes, para Briançon, Gap, Grenoble e, finalmente, Valence, onde só a morte pôs um fim às suas «peregrinações», posto que o Directório já havia decidido transferi-lo para Dijon. Mas, se tudo isso foi trágico do ponto de vista individual, foi também, para exasperação dos seus captores anti-religiosos, uma procissão triunfal, tais eram os exemplos de devoção mostrados ao papa pelos povos da Itália e d aFrança aonde quer que ele fosse.
As palavras que descrevem um pontífice da nossa época, João Paulo I (que foi papa de 26 de agosto a 28 de Setembro de 1978), deram origem a muita especulação por séculos a fio. «De medietate lunæ» (Da meia-lua), é a sua divisa. Como o signo do Islão é a lua crescente, especulou-se que poderia ser uma referência a essa religião. Mas, «ninguém pensou que a lua poderia significar simplesmente o mês», escreveu Lings. Se tal sugestão tivesse sido feita, teria sido rejeitada como sem sentido pela pergunta: «Que mês?». A resposta certa, «o único mês que ele governará», só poderia ter sido dada pelo próprio São Malaquias, ou por alguém como ele.
A legenda do pontífice seguinte também faz referência aos corpos celestes, neste caso «De labore solis» (O eclipse do sol). A divisa cabe a João Paulo II (1979-2005), o antepenúltimo nome na lista de São Malaquias. O «eclipse» pode ser uma referência ao facto de que, durante o seu pontificado, a Igreja perdeu milhões de fiéis em todo o mundo. Dezenas de milhares de padres abandonaram o sacerdócio – segundo a revista italiana Civiltà Cattolica, de 21 de Abril de 2007, foram 69.063 sacerdotes entre o final do Concílio Vaticano II (1962-1965) e o fim do pontificado do polaco Karol Wojtyla. Por todo o mundo, seminários, escolas e conventos foram fechados. A frequência à missa caiu para menos de 20%, quando era de 75% anteriormente. Seja essa a explicação correcta ou não, vale lembrar que Karol Wojtyla nasceu a 18 de Maio de 1920, dia de eclipse solar. E que no dia do seu funeral, a 8 de Abril de 2005, houve outro eclipse solar.
O penúltimo papa da lista de São Malaquias é referido pelas seguintes palavras: «De gloria olivae» (Da glória da oliveira), em relação a Bento XVI. Aqui, as explicações ainda não estão claras o suficiente, mas alguns comentadores especulam que a divisa seja uma referência aos olivetanos, um ramo da Ordem Beneditina. Como o nome papal foi uma homenagem ao fundador dos beneditinos, São Bento de Núrcia, Joseph Ratzinger poderia significar a «glória» em questão. Há que reconhecer, contudo, que a explicação aqui não é consistente nem conclusiva.
Seja como for, algumas vezes a solução do enigma só surge depois de certo tempo. Afinal, como observou o autor britânico William Stoddart, «profecias são fenómenos que ocorrem em toda religião, elas são difíceis de interpretar antes dos eventos, e fáceis de comentar depois. Geralmente, são simbólicas, e não literais, com excepção das célebres profecias de S. Malaquias». Estas, se são simbólicas ou enigmáticas no que diz respeito ao lema de cada pontífice, parecem, não obstante, ter uma motivação global literal, ou quantitativa, na medida em que visam registar o nome de todo aquele que tenha ocupado a Sé de São Pedro da época de sua redacção, na Idade Média, até ao derradeiro papa do presente ciclo histórico, que, segundo a profecia, será chamado «Petrus Romanus».
Sobre o último Papa, que sucederá Bento XVI, São Malaquias escreveu: «Na perseguição final contra a Santa Igreja Romana, Pedro Romano sentar-se-á no trono (papal) e apascentará o seu rebanho em meio a muitas tribulações. E quando estas coisas tiverem acontecido, a cidade das sete colinas (possivelmente Roma) será destruída, e o Juiz tremendo (Jesus Cristo) julgará o seu povo».
Copiado de:http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=628992
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