terça-feira, 13 de março de 2012

O fim do mundo ecológico?

O apocalipse existe. Ele é ecológico
Foto: Divulgação

 BASEADOS NO CALENDÁRIO MAIA, ALGUNS ACREDITAM QUE A 21 DE DEZEMBRO DE 2012 ACONTECERÁ O FIM DO MUNDO. PARA A CIÊNCIA, O APOCALIPSE DEFINITIVO REALMENTE OCORRERÁ... DENTRO DE 5 OU 6 BILHÕES DE ANOS. MAS PEQUENOS FINS DE MUNDO ESTÃO ACONTECENDO, TODOS OS DIAS, NA NATUREZA 

 Por Luis Pellegrini 


 O mundo vai acabar em 21 de dezembro de 2012? Claro que não. Do ponto de vista da ciência, esse dia será apenas uma data como outra qualquer. As melhores cabeças-pensantes, no entanto, falam cada vez mais dos pequenos-grandes apocalipses que ocorrem a cada instante na superfície do planeta. Aqueles fins-do-mundo ecológicos, por exemplo, quase sempre provocados pela nossa ganância, incúria e irresponsabilidade. Apesar dos desmentidos, a mídia internacional esquenta os motores para a saraivada de matérias sobre hecatombes previstas para o final deste ano. Que fazer? Os leitores adoram reportagens e filmes que tratam de grandes desastres. Resta a pergunta: por que o tema do fim do mundo desperta tanto interesse? O mito do apocalipse é muito antigo: é o tema, inclusive, do livro que encerra a Bíblia. Poucos fenômenos religiosos são mais paradoxais e repetitivos que a expectativa apocalíptica - ou seja, a crença numa transformação radical e iminente do mundo. Por um lado, a primeira coisa que se pode dizer dessa crença é que, em todas as vezes que se manifestou, mostrou-se sempre equivocada. Por outro lado, apesar de desapontar constantemente, continua a surgir, com maior ou menor intensidade, e a arrastar ocasionalmente grandes massas de pessoas que nela confiam cegamente.
Os corais são hoje uma espécie muito ameaçada O que intriga os cientistas é que, embora se apoie sempre sobre pressupostos falsos, a crença apocalíptica pode assumir grandes proporções e canalizar imensas forças. Pode inspirar seus seguidores a praticar monumentais sacrifícios (lembram dos suicídios coletivos das seitas apocalípticas de Jim Jones, do Templo Solar, dos davidianos de Wacco, etc?) Pode engendrar comportamentos radicais, desde os mais pacíficos até os mais violentos. Além disso, outra característica importante dos grandes movimentos apocalípticos é que eles raramente desaparecem, mesmo depois que seus prognósticos de destruição total mostram-se completamente falsos. Seus integrantes apenas reescrevem a história passada do seu respectivo movimento, de modo a eliminar as previsões que se mostraram errôneas. Outro aspecto típico do fenômeno é que, ironicamente, as mesmas esperanças e temores apocalípticos produzem reações contraditórias, na forma de movimentos muitas vezes diametralmente opostos. No seu aspecto negativo, paranoico, violento e destrutivo, valem os mesmos exemplos citados das seitas que praticaram o suicídio coletivo. No seu aspecto positivo encontramos o próprio movimento New Age, com todas as suas propostas messiânicas de um futuro melhor, mais pacífico, próspero, saudável e feliz.
Embora o jogo de temor do final dos tempos versus esperança num mundo melhor exista em atividade contínua pelo menos desde o início da nossa cultura judaico-cristã, existem épocas em que ele se acentua de modo quase obsessivo, galvanizando imensas parcelas da população. Tais épocas costumam estar relacionadas aos assim chamados “anos de números redondos”, como as viradas de século e, principalmente, as viradas de milênio. Um grande interesse por questões milenaristas ocorreu, por exemplo, há 12 anos, na virada do século 20 para o século 21. Quando se estudam as características das crenças milenaristas e apocalípticas no coletivo social durante esses períodos históricos, uma primeira constatação salta à vista: o quadro de fundo histórico e psicológico é sempre o mesmo. No ano 1000, época da primeira virada de milênio em tempos e territórios cristãos, todas as características milenaristas estavam presentes: ondas de conversão em massa à então religião dominante, o cristianismo; profundas reformas governamentais e eclesiásticas; peregrinação em massa aos lugares santos, particularmente Jerusalém; proliferação de seitas heréticas e de movimentos apostólicos paralelos à Igreja; execução de hereges e violência popular contra judeus e muçulmanos; surgimento da “Paz de Deus”, primeiro movimento coletivo em prol da paz de toda a história mundial. Quando o ano 1000, apesar de toda a excitação que o acompanhou, falhou em trazer consigo o esperado final dos tempos, as esperanças se voltaram para o ano 1033. Alegou-se então que esse seria o ano do apocalipse, já que Cristo morrera aos 33 anos, e que o propalado fim do mundo ocorreria mil anos após a sua morte, e não o seu nascimento.
O exame dos documentos daquela época traça um panorama histórico digno de muita reflexão. Retratam um mundo selvagem, com a natureza ainda quase intocada, onde os seres humanos, ignorantes e supersticiosos, armados de instrumentos irrisórios, lutavam de modo em geral inglório contra os poderes da terra e as forças da natureza. Cercados pela doença, atormentados pela fome, passavam a maior parte da sua vida tentando arrancar da terra uma parca alimentação. Ao lado de toda essa tragédia, alguns chefes, senhores da guerra ou da religião, percorriam com soldados armados aquele universo miserável, apoderando-se das poucas riquezas da população para encher seus palácio ou suas igrejas. Como podemos ver, qualquer similitude com a realidade histórica dos dias de hoje não é mera coincidência. O mundo mudou muito em matéria de hábitos e costumes, em matéria de tecnologia e ciência. Mas a realidade social e anímica do indivíduo e da sociedade de hoje não difere muito do quadro que existia na virada do ano 1000. Ainda há, de um lado, minorias laicas poderosas que gozam de riquezas materiais, e do outro lado uma enorme massa de pobres e miseráveis. Ainda pululam líderes religiosos que exploram a credulidade alheia e amealham fortunas às custas dela. Todos os fatores que caracterizam tempos milenares estão hoje bem presentes. Mas é, curiosamente, da super-desenvolvida área científica que emergem as mais impressionantes previsões apocalípticas: a hecatombe atômica que continua a nos ameaçar, o efeito estufa, a destruição das camadas de ozônio, a poluição da terra, da água e do ar, o esgotamento dos recursos terrestres, para citar apenas algumas.
O perigo é real: todas essas ameaças à sobrevivência da humanidade - motivadas pela ganância, incúria e irresponsabilidade da própria humanidade - não podem ser negadas. Apesar disso, em termos estritamente científicos, o fim do mundo não acontecerá tão cedo. A partir das observações dos mais importantes astrofísicos, o cosmos se manterá em expansão ainda por bilhões e bilhões de anos, até começar a encolher, contraindo-se até o desaparecimento. Nosso sol um dia vai se transformar numa gigante vermelha, como as estrelas que hoje se encontram no final das suas vidas. Seu volume irá inchar enormemente, e sua superfície se estenderá para além das órbitas de Mercúrio, Vênus e a Terra. Nosso planeta se encontrará num ambiente de três mil graus centígrados, e será rapidamente transformado em vapor. Tudo isso vai acontecer... dentro de cinco bilhões de anos. Mas, se podemos dormir sossegados ainda por muito tempo quanto aos apocalipses astrofísicos, o mesmo não se pode dizer daqueles ecológicos. Eles reclamam providências urgentes. As ameaças aos oceanos, por exemplo. Segundo os cenários mais pessimistas desenhados pelos peritos em climatologia, o aumento global da temperatura previsto para as próximas décadas (cerca de 0,3 graus a cada dez anos) implicará numa elevação do nível dos mares de 20 centímetros ao redor de 2030, e de 65 centímetros ao redor de 2100. Elevação suficiente para varrer do mapa muitas ilhas rasas, como as Maldivas, e para ameaçar várias cidades costeiras como o Rio de Janeiro, Veneza, São Francisco. A crescente desertificação é outro fenômeno ligado às mudanças climáticas. Calcula-se que 70 mil quilômetros quadrados de terra fértil são abandonados a cada ano por exaustão do solo, e outros 200 mil têm sua produção em declínio. O fenômeno está ligado também a práticas erradas de irrigação: sem drenagem acurada, capaz de permitir um bom escoamento das águas, os sais minerais se acumulam no solo quando a água evapora. Certos cálculos afirmam que 14% da superfície da terra são atingidos por erosões causadas pelo homem.
A superpopulação do planeta é outro dado ameaçador. Ela permaneceu constante durante dezenas de milhares de anos. Depois começou a crescer num ritmo cada vez mais impetuoso. Se partirmos do ano zero, quando existiam cerca de 250 milhões de seres humanos, dobraremos essa cifra ao redor do ano 1650. Apenas 150 anos depois, no início do século 19, ocorre a segunda duplicação. Hoje, dobramos a população mundial a cada 40 anos. Em 2050, apesar dos vários mecanismos de controle em ação ao redor do mundo, poderemos ser 11 bilhões de seres humanos a caminhar sobre a Terra. Graças principalmente à ação humana, para muitas espécies de animais o apocalipse já aconteceu ou está acontecendo. Em termos técnicos, chama-se a isso “diminuição da biodiversidade”. Na prática, significa que a espécie humana cancela outras espécies do planeta a uma velocidade impressionante. Junto às florestas destruídas, desaparecem os seus habitantes, os animais e as plantas que constituem mais da metade do patrimônio genético do planeta. Calcula-se que a cada quinze minutos uma inteira espécie desaparece para sempre. São perdas que não conseguimos sequer avaliar, pois não sabemos quais das plantas que cancelamos da lista da vida podem conter um elemento precioso para a indústria dos medicamentos que baseia boa parte dos seus preparados em substâncias colhidas na natureza. Conhece-se melhor as dimensões dessa tragédia quando a atenção se volta para alguns animais-símbolo. Nos últimos dez anos a população africana dos elefantes caiu. Em 1987 eles eram 765 mil; hoje, seu número está entre 500 mil e 600 mil. Ainda mais reduzido é o número dos seus primos indianos (pouco mais de 30 mil). Outro animal símbolo é o rinoceronte. Os de Sumatra estão reduzidos a não mais de 300 exemplares; os javaneses a apenas 60; os indianos a 2 mil; o rinoceronte negro africano a 4000; o branco africano a 20000. O último rinoceronte do Vietnã foi morto o ano passado. Diante desses números a esperança de sobrevivência da espécie é praticamente nula.
A poluição ambiental é hoje um dos principais sinais da possibilidade de um apocalipse ecológico. Não existe um só ponto da superfície do planeta que não esteja tocado pela poluição. Traços dos gases venenosos exalados pelos escapamentos dos automóveis europeus e norte-americanos encontram-se até no Polo Norte, onde originam um fenômeno denominado “névoa polar” que altera artificialmente as cores da atmosfera. Apenas uma pequena parte da Terra está ainda relativamente intacta. São as zonas mais extremas, mais inóspitas dos desertos e das geleiras. Na Europa, elas se limitam a partes restritas da Islândia, Suécia e Noruega. As zonas de maior interesse naturalístico da Rússia, em particular as da Sibéria, são as que neste momento correm maiores perigos. Arrastados pelo aumento da população, e pela difusão de um estilo de vida baseado na grande produtividade e no alto consumo, todos os principais indicadores ecológicos correm para o vermelho. As reservas de cereais alcançaram o seu ponto mais baixo. Em todo o mundo pesca-se muito mais do que os mares e os rios podem oferecer, e desse modo se reduzem as reservas e não se permite a adequada reposição dos cardumes. As florestas tropicais desaparecem ao ritmo alarmante de 1% ao ano: do encontro para o meio ambiente em 1992, a Rio 92, até hoje, mais de um milhão de quilômetros quadrados de florestas foram devastados. Com eles desapareceu parte do manto pluvial que estabiliza a atmosfera do planeta. O apocalipse ecológico dos nossos dias é constituído por uma cadeia de fenômenos entrelaçados, que se influenciam uns aos outros, como num efeito dominó. Ao redor do ano 2005, pela primeira vez na história da humanidade, o número de cidadãos urbanos - que até há pouco eram ínfima minoria - superou o número de cidadãos do campo. Em 2020, a população urbana já será de 61% do total. Essa explosão trará consigo uma completa transformação dos hábitos de consumo e dos hábitos de vida, de consequências ainda imprevisíveis. Segundo alguns especialistas mais drásticos, um bom exemplo do caos ambiental urbano que nos espera é... São Paulo. A metrópole paulista devora doze quilômetros quadrados de verde ao ano. Em apenas meio século sua área passou de 180 quilômetros quadrados a mais de mil quilômetros quadrados!

A ciência contemporânea, embora negue a possibilidade de um apocalipse total, entendido como fim do mundo, está atenta aos pequenos apocalipses que acontecem na realidade de cada instante. Por isso, muitos cientistas falam hoje abertamente da possibilidade de uma completa reorganização sistêmica do mundo e da sociedade humana.  


O FIM DO MUNDO SEGUNDO AS RELIGIÕES


 CATÓLICOS: O fim do mundo para a doutrina católica é o momento do Juízo Final e do retorno do Messias. A esse derradeiro julgamento acorrerão todos, os vivos e os mortos, para serem julgados pelas suas ações. Mas, de modo um tanto diferente do que ocorria no passado, quando os que incorreram em pecados mortais eram condenados ao inferno eterno, a teologia católica moderna mais e mais faz referência ao aspecto todo misericordioso de Deus. 


 PROTESTANTES: As igrejas evangélicas não defendem uma visão catastrófica do fim do mundo. Preferem acreditar no retorno de Jesus no dia do Juízo Final. Os protestantes leem o livro do Apocalipse em chave simbólica, para lembrar aos crentes de que devem ter confiança, de que são observados e vigiados e de que a última palavra é sempre aquela proferida pela graça de Deus. 


 JUDEUS: Para a religião hebraica não haverá um fim catastrófico do mundo, mas sim uma época futura de grandes transformações que tenderão para o bem. Os judeus esperam a chegada do Messias, que assinalará o advento de uma nova era de total harmonia entre os homens e o retorno mundial à crença num único Deus. 


MUÇULMANOS: No islamismo existe a ideia de uma destruição final precedida pela “maior de todas as guerras”, e por um segundo dilúvio, desta vez não de água, mas sim de fogo, no “Dia do Juízo”. Deus punirá os culpados e premiará as pessoas de fé. 


 BUDISTAS: O fim de cada ser está ligado ao perene ciclo cármico dos nascimentos, mortes e renascimentos, fruto das ações individuais e coletivas nesta vida e nas encarnações precedentes. Através da meditação, todos os seres poderão interromper esse ciclo, e compreender que tudo aquilo que existe é pura ilusão. 

HINDUÍSTAS: Também possuem uma visão cíclica da vida e do mundo. Para os hinduístas existiram e existirão muitos inícios e muitos fins de mundos. Cada época é caracterizada por um gigantesco caos final, com uma tremenda batalha entre as forças do mal e do bem, antes do surgir de uma nova era. 

 extraído de: http://brasil247.com

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