quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Protesto on-line é perigoso? Você é um protestante na Web?


Protesto on-line pode ser mais perigoso que o físico, diz especialista


Dados expostos na web podem ficar disponíveis para sempre.
Participação das redes sociais em protestos já é 'rotineira'.

Um protesto on-line pode ter efeitos mais duradouros que um protesto físico, já que informações expostas na rede podem ficar disponíveis para sempre enquanto danos materiais podem ser consertados.
A opinião é do especialista Anchises Moraes, que atua como analista de inteligência em ameaças na empresa de segurança RSA. Ele conversou com o G1 sobre as movimentações e protestos on-line, que também acompanham as ações contra o Instituto Royal.
O laboratório da empresa foi invadido na madrugada desta sexta-feira (18). Manifestantes dizem que animais usados em pesquisas feitas no local sofriam maus-tratos. Segundo Moraes, já virou "rotina" no planeta todo que manifestações que ocorrem no mundo real sejam acompanhadas de protestos on-line.
"Quem está na rua usa as redes sociais pra divulgar o que está na rua, para fugir dos filtros da mídia, da censura, do controle da informação. Mas é comum que pessoas que não estejam participando fisicamente do protesto se aproveitem da comunicação nas redes sociais pra ajudar a divulgar, de certa forma, o protesto, porque muita gente não participa porque não quer, porque tem medo, ou porque não pode por morar em outra cidade, outro estado", explica Moraes.

Ciberativismo
O uso da internet para organizar ou divulgar uma ideia recebe o termo de "ciberativismo". Entre as formas mais populares de protesto na internet está a divulgação de mensagens em redes sociais, onde protestos podem ser organizados.
Foi o caso da invasão ao Instituto Royal. A organização da manifestação admitiu que a movimentação on-line "saiu do controle" e quevários grupos sem ligação direta com a defesa dos direitos dos animais se juntaram à ação após tomarem conhecimento da causa pela internet.
Algumas das ações tomadas pelos ativistas na web, porém, geram polêmica. O site do Instituto Royal foi alvo de um ataque de negação de serviço, que busca sobrecarregar um site. O ataque recebeu o apoio do coletivo "Anonymous", que chegou a publicar uma mensagem no Twitter de "TANGO DOWN", termo usado quando um site alvo de um ataque fica fora do ar.
Dados pessoais do presidente do Instituto Royal e da própria empresa também foram publicados na web. Esses acontecimentos, porém, também são rotineiros: em janeiro, dados de políticos brasileiros foram parar na web, também motivados por protestos on-line. Esse tipo de ação é atribuída aos "hacktivistas".
"O 'hacktivista' é aquele que na verdade também tem uma carga política, ideológica, religiosa por trás, mas em vez de usar a internet para manifestar, só criando uma página do Facebook, ele está manipulando a tecnologia e os controles tecnológicos para usar isso como forma de protesto ou apoio a um protesto", diz o especialista da RSA.
Legal x ilegal
Não é possível, porém, afirmar que o "hacktivismo" está ligado ao que é ilegal. Para Moraes, a questão é meramente técnica. Um "hacktivista" pode colaborar desenvolvendo uma ferramenta que burle um controle ou proibição do estado sem se envolver diretamente com ataques ou protestos específicos.
Um exemplo disso ocorreu durante a Primavera Árabe, quando o acesso à internet foi limitado para impedir manifestantes de comunicar o que acontecia. Meios de acessos alternativos e ferramentas contra a censura foram providenciados por "hacktivistas". A questão da legalidade, portanto, recai sobre os próprios conflitos sociais.
"Essa fronteira do legal e do ilegal é meio dúbia. Quando se está protestando, normalmente é contra uma situação dominante. Na perspectiva de uma parcela da população, você está fazendo a coisa certa, e na de outra parcela, majoritária, rigorosamente, você está agindo errado, porque está protestando contra o status quo", opina o especialista.
Dados pessoais
Outra atividade comum do "hacktivismo" é a exposição de dados pessoais, que pode ocorrer de diversas formas. Segundo Moraes, muitos "hacktivistas" não possuem conhecimentos técnicos avançados e, por isso, os dados são normalmente obtidos a partir de ataques mais simples, buscas no Google ou até em bancos de dados de terceiros.
Mesmo atos simples podem ter consequências graves. Isso porque muitas pessoas não sabem quantas informações sobre elas mesmas estão disponíveis na internet. Esses dados podem ser de pessoas ligadas ao alvo do protesto, mas Moraes indica que em alguns casos, especialmente fora do Brasil, esses dados também são usados para identificar policias que atuam na repressão das manifestações. O objetivo é normalmente a vingança ou a humilhação dos envolvidos.
"No protesto físico, quebrou, conserta e tudo bem. Mas no protesto on-line se expõe os dados do dono do instituto, do dono de uma escola ou do presidente de uma organização, de uma empresa, de um político... uma vez expostos, os dados estão pra sempre na internet."

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