terça-feira, 22 de novembro de 2011

Na "guerra" de balas de borracha, gás lacrimogêneo e golpes de cassetetes, contra pedras. Resultando em dezenas de mortes e centenas de feridos. "Segunda revolução" no Egito?

 

Revoltados com junta militar que substitui Mubarak, egípcios fazem “Segunda Revolução”

21/11/2011 12:57, Por Redação, com agências internacionais- do Cairo Ao menos 33 pessoas morreram desde sábado no Cairo, nos confrontos entre forças de segurança egípcias e manifestantes, informaram nesta segunda-feira autoridades do sistema funerário egípcio. Outras 1,8 mil pessoas ficaram feridas nas manifestações, concentradas na praça Tahrir, no centro da capital, através das quais os egípcios se queixam de que os militares do governo interino estariam se aferrando ao poder. Centenas de soldados e policiais tentaram expulsar os manifestantes da praça com balas de borracha, gás lacrimogêneo e golpes de cassetetes. Novos episódios de violência entre a polícia egípcia e manifestantes foram registrados nesta segunda-feira.
Tropas de choque egípcias tentam dispersar os manifestantes da praça Tahrir na madrugada de domingo Manifestantes contra a junta militar que governa o país continuam acampados na praça que se tornou o símbolo dos protestos que derrubaram o regime de Hosni Mubarak, após 30 anos no poder, em fevereiro. A uma semana das eleições parlamentares, os manifestantes acusam a junta militar responsável pela transição para a democracia de tentar manter seu poder no país após a eleição de um governo civil. De acordo com os jovens, em sua maioria muçulmanos e ativistas, o projeto de constituição permitiria que os militares mantivessem muito poder. Segundo o projeto, os militares e seu orçamento não ficariam sujeitos a uma supervisão civil. Isso irritou os manifestantes, que temem que as conquistas feitas durante o levante popular contra o regime de Mubarak sejam apagadas pela nova posição dos militares em um governo civil. Eles pedem a renúncia do marechal Hussein Tantawi, que lidera o governo militar, e a instituição de um conselho civil.

Repressão

Na noite de domingo, a polícia fez uma tentativa violenta de retirar os milhares de manifestantes que ocupavam a praça Tahrir, mas eles retornaram à praça, gritando palavras de ordem, apenas uma hora após a ação da tropa de choque. Testemunhas descreveram cenas de pânico quando centenas de soldados e policiais batiam na cabeça dos manifestantes tentando expulsá-los da praça. Alguns acusam as forças de segurança de atirar usando balas de verdade, alegação que é negada pela polícia. Os confrontos começaram no sábado, depois da realização de manifestações contra a junta militar no Cairo e outras cidades, como Alexandria, Suez e Aswan, na sexta-feira. A violência continuou no domingo e na manhã desta segunda-feira. Alguns jornais egípcios chamam os eventos de “a segunda revolução”. Uma declaração divulgada pelo gabinete do governo disse que as eleições, previstas para começar no dia 28 de novembro, vão ser realizadas e elogiou a “moderação” das forças do Ministério do Interior contra os manifestantes. Ao todo, o processo eleitoral vai levar três meses. O Ministério da Saúde do Egito informou nesta segunda-feira que os confrontos entre manifestantes e a polícia na praça Tarhir já deixaram 20 mortos, segundo informou a TV estatal egípcia, sem dar mais detalhes. Dados do Ministério egípcio da Saúde reconheceram que um jovem de 26 anos do partido islamista Al-Tayyar Al-Masry morreu nesta madrugada em Alexandria com tiros na cabeça, supostamente disparados pela polícia durante um protesto nessa cidade litorânea. Sua morte somou-se à de outro homem de 23 anos, também membro de uma organização islamista, que faleceu no sábado à noite em Tahrir com um disparo no peito, enquanto o total de feridos até o amanhecer de hoje era de 750, segundo reportou a televisão estatal. Manifestantes comentaram que prevêem uma represália da polícia por ordem do Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA), alvo fundamental das críticas e mobilizações da sexta-feira e de ontem, que exigem a transferência do poder a civis. Mohammed Ezabi, um integrante da Irmandade Muçulmana, prognosticou mais incidentes violentos derivados do desencanto da maioria dos egípcios com a atuação da Junta Militar, que, segundo afirmou, “sente-se respaldada pelos Estados Unidos e busca apenas suas próprias quotas de poder”. Em diálogo com repórter da Prensa Latina, mostrou sua decepção pelo enfoque dado aos protestos de Tahrir em círculos governamentais estadunidenses e recordou que Washington contribui anualmente com 1,3 bilhões de dólares de assistência militar ao Cairo. Outros entrevistados criticaram também o chamado do premiê egípcio, Essam Sharaf, para que os ativistas evacuem a praça, retirem as barricadas das ruas e permitam que seja reaberta a circulação de automóveis. Dada a magnitude dos confrontos, o vice primeiro-ministro, Alí Al-Selmi, afirmou que a comissão encarregada de redigir a futura Constituição do Egito deverá ser aprovada pelo Parlamento que seja eleito no dia 28 de novembro. A decisão, ainda que não constitua um cancelamento dos planos de Al-Selmi de incluir um rascunho de princípios supraconstitucionais, tratou de aplacar o mal-estar causado pelas pressões para condicionar uma Carta Magna favorável ao CSFA inclusive antes das eleições.

Renúncia

Organizações políticas e sociais como a Frente Democrática 6 de Abril deploraram a “brutalidade policial”, a “barbaridade” e os “ataques sangrentos” contra ativistas pacíficos, instando o ministro do Interior, Mansour Al-Essawy, a renunciar. O ministro da Cultura, Emad Abu Ghazi, disse nesta segunda-feira que apresentou sua “renúncia definitiva” por conta “dos fatos dos dois últimos dias na praça Tahrir do Cairo”, onde pelo menos 26 pessoas morreram nos últimos dias em enfrentamentos entre manifestantes e forças de segurança. -Participei da reunião (de urgência) do Conselho de Ministros ontem pela tarde e no final apresentei minha renúncia verbalmente ao primeiro-ministro-, explicou Abu Ghazi, que até hoje não havia confirmado a informação. O intelectual e professor universitário de História, o primeiro membro do Governo que renuncia pelos eventos ocorridos em Tahrir, acrescentou que encontrou Sharaf também nesta amanhã. -Entreguei minha renúncia por escrito e o agradeci por seu trabalho, porque o respeito muito-, destacou Abu Ghazi, que não quis dar mais detalhes sobre a maneira como o Governo administrou a crise. A notícia da renúncia foi um rumor insistente durante o domingo, mas Abu Ghazi não se pronunciou até o momento sobre sua decisão, adotada depois que pelo menos 26 pessoas morreram desde no sábado pelos enfrentamentos entre manifestantes e as forças de segurança. Em seu perfil no Facebook, o historiador recebeu durante dois dias felicitações de centenas de pessoas, que elogiaram sua coragem pela decisão.

Mulher candidata

 Buthaina Kamel, apresentadora de televisão, de 49 anos, é a primeira mulher a disputar a Presidência na história moderna do Egito. Mesmo admitindo que suas possibilidades são mínimas, disse que se candidata por princípios. “Pretendo mostrar ao mundo que o Egito é um país moderno, onde as mulheres têm direito de disputar os mais altos cargos do Estado, o que, como o voto, é um direito humano básico”, disse Kamel à IPS. Após começar sua carreira na rádio estatal, Kamel trabalhou grande parte dos anos 1990 como apresentadora de televisão. Em 2005, depois de um polêmico referendo sobre uma série de reformas constitucionais, entrou para a política. Logo se converteu em fervorosa integrante do movimento democrático Kefaya e se colocando em aberta crítica ao governo de Mubarak. “Participei de numerosas manifestações e marchas, especialmente contra a corrupção oficial”, afirmou. Kamel destacou que também apoiou desde o começo os protestos que levaram à queda do regime. “Eu estava na Praça Tahrir no dia 25 de janeiro, dia em que a revolução começou”, afirmou. Após a saída de Mubarak, voltou a trabalhar na televisão estatal. Porém, disse que foi “marginalizada” por seus superiores devido à sua resistência em limitar-se a ler o texto das notícias. Desde então, foi interrogada em três ocasiões pelas autoridades militares, a última após ter questionado abertamente o Conselho Supremo. Kamel disse que se inspirou nos ativistas jovens – incluindo várias mulheres – que conheceu no transcurso do levante de 18 dias contra o regime. -Tenho muita confiança nos jovens do Egito, em sua capacidade de liderar o país no próximo período-, afirmou. “As mulheres tiveram um papel importante na revolução, e muitas caíram como mártires. Agora, esperamos que gozem de um papel mais ativo na política nacional do que tiveram no passado”, acrescentou. A Constituição egípcia de 1956 concedeu às mulheres o direito de voto e de se candidatarem nas eleições nacionais. Entretanto, a participação feminina na política foi mínima durante os 30 anos de governo de Mubarak. Dados divulgados pelo não governamental Centro do Cairo para o Desenvolvimento indicam que a participação de egípcias nas eleições nacionais entre 1981 e 2010 foi de apenas 5%. No mesmo período, as mulheres ocuparam apenas 2% das cadeiras no parlamento nacional e menos de 5% nos parlamentos municipais. Embora tenha um enfoque moderno, Kamel não está filiada a nenhum dos muitos partidos liberais que emergiram após a revolução. Prefere apresentar-se como independente, e sua plataforma política se focará em defender “todos os egípcios privados do direito de votar”. “Não me apresento apenas pelas mulheres, mas pelos marginalizados (das regiões do sul) do Alto Egito e de Nubia, pelas tribos beduínas, pelos pobres, idosos e deficientes”, afirmou Kamel, destacando que seu programa político se concentraria principalmente em “combater a corrupção e o desemprego”. O maior obstáculo que enfrenta é o fato de que neste país de maioria muçulmana, grande parte dos habitantes, tanto homens quanto mulheres, descartam a ideia de ter uma presidenta. Alguns partidos e grupos muçulmanos, especialmente a influente Irmandade Muçulmana, rejeitam completamente a possibilidade por motivos religiosos. Segundo explicou Essam al-Arian, vice-presidente do Partido Justiça e Liberdade, braço político da Irmandade, existem duas escolas de jurisprudência islâmica sobre este assunto. -Alguns juristas dizem que é permitido ter uma mulher como chefe de Estado, e outros dizem que não. A Irmandade acredita que não-, disse Al-Arian. “Apoiamos o direito das mulheres à educação, ao emprego e inclusive a integrarem o parlamento ou serem ministras de governo, mas não o de ocupar o cargo de soberano nacional”, destacou. “Contudo, esta é nossa postura, e não a do Estado”, esclareceu.“Naturalmente, ela tem o direito constitucional, como todos os cidadãos egípcios, de querer disputar a Presidência. Isto significa simplesmente que se a Irmandade prefere não apresentar uma candidata, definitivamente não impedirá que outros setores o façam”, ressaltou Al-Arian. Embora se espere que tenha bons resultados nas próximas eleições parlamentares, o Partido Justiça e Liberdade anunciou que não apresentará um candidato nas eleições presidenciais. A ativista Esmat al-Merghani, primeira mulher a dirigir uma força política, o Partido Social Livre, elogiou a coragem de Kamel. “A candidatura de Buthaina impulsionará a imagem do Egito como um país moderno e civilizado”, declarou. “Mesmo não ganhando, já abriu uma nova porta para o avanço das mulheres, sem mencionar que tem a honra de ser a primeira egípcia a se candidatar à Presidência”, acrescentou. Kamel, por sua vez, está otimista. “Quando converso com as pessoas, mesmo em redutos da tradição como Alto Egito e Delta do Nilo, o fato de ser mulher faz pouca diferença”, assegurou. “O importante é que ouço seus pontos de vista e entendo seus problemas. Estou plenamente consciente da natureza patriarcal da sociedade egípcia. E acredito ser capaz de liderar os mais de 80 milhões de habitantes do país”, acrescentou

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